por Flavio Brebis
foto: G1
Hoje participei de uma experiência sociológica. Depois do
beijo gay na televisão, em horário nobre, na maior emissora do país fui ao centro da cidade para perceber com
as pessoas reagiram. Moro numa cidade do Distrito Federal há quase dezessete (amanhã
dia 02 de fevereiro de 2014 faz dezessete), com quase 700 mil habitantes e por
aqui circulam mais de um milhão de pessoas diariamente, pois é um centro
comercial e passagem para algumas localidades. Aqui não é muito diferente do
restante do Brasil e já sofri homofobia, sim, apesar de ser uma cidade de gente
bem posicionada socialmente (classe média e classe média alta), por ser como
sou, gay assumido e, às vezes, com looks
exóticos, por gostar de ser gay exótico e nunca ofender ninguém, mas pessoas na
rua insistiam em fazer piadinhas e até quererem me agredir fisicamente.
Hoje andei pelas ruas de Taguatinga-DF, parei em bancas de
revistas e jornais e a maior parte estava estampada com o Beijo Gay da Globo,
inclusive o jornal de maior circulação no DF, fato comemorado de norte a sul
por comunidades LGBT e considerado uma “ameaça à família” por grupos de
religiosos fundamentalistas. A sensação de andar pelas ruas era de orgulho. O meu
sorriso no rosto incomodava.
Milito nos movimentos sociais há mais de 20 anos, na defesa
de direitos humanos de pessoas LGBT, escrevo para crianças nas temáticas de
diversidade, pois acredito na educação de cidadãos e cidadãs do futuro, mais
respeitosos, diante das diferenças e senti que ganhamos uma batalha, ainda
modesta, mas emblemática e com uma força simbólica muito importante para a
construção de uma representação social positiva de pessoas LGBT no Brasil.
Nos dias atuais, ver fotografias divulgadas nas redes
sociais de corpos mutilados e assassinatos bárbaros, motivados por homofobia, causa-me
uma revolta na alma, e aí depois de enxugar as lágrimas, sei que devo retomar
ao meu trabalho de educador e percebo que nossa tarefa é árdua e é todo dia, na
defesa de direitos humanos, na defesa de vidas, inclusive as nossas. E essa é a
diferença entre ser fraterno e ser viver na pele, no cotidiano o que é sofrer
ataques diários e ser desrespeitado nos seus diretos.
Ver o beijo de pessoas do mesmo sexo na tv, em 2014, diante
de tantos ataques e assassinatos homofóbicos e tantos tabus, é resultado da militância
de muita gente morreu e morre no Brasil, que acreditou e acredita num mundo em
que o amor e as relações socialmente positivas são mais viáveis do que religiões
que pregam o ódio.
Hoje (primeiro dia de fevereiro de 2014) fui a um salão de
beleza de clientela masculina onde corto meu cabelo (exótico) e os comentários
sobre o beijo não foram de ataques homofóbicos, mas de preocupação com a
formação das crianças, como se fosse a homossexualidade uma influência. Um
avanço na sociedade brasileira, que em menos de vinte anos foi se acostumando
com as pautas LGBT na mídia, com as paradas do orgulho LGBT por todo o país, com
personagens gays na telenovelas, seriados e filmes brasileiros, além dos profissionais
nos diversos setores da sociedade, e ainda as demandas LGBT pela garantia dos
direitos sociais.
O que fica depois do beijo entre dois personagens do mesmo
sexo (masculino) em uma telenovela, na maior emissora de televisão aberta do Brasil é que chegamos
a uma peça de ficção verossímil, que se baseia na realidade para se
sustentar e, seria incoerente não haver gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais, compõem os tipos humanos, estão presentes em todos os setores,
assumindo papéis sociais, sendo assumid@s e bem-sucedid@s em muitas áreas da
sociedade, que demonstram afeto de modo tranquilo como qualquer ser humano, com
as fragilidades, especificidades e vulnerabilidades.
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