Abertura dos Jogos Paralímpicos – Foto: Flavio Brebis

 


“SOMETHING IN THE AIR”, que tem como tradução “Algo no Ar”, é a principal manchete da edição especial do Jornal The Times após a Cerimônia de Abertura dos Jogos Paralímpicos de Londres, ao se referir as performances que tomaram formas, cores e voos diante de uma plateia calorosa e atenta, que lotou o Estádio Olímpico. Um dos momentos solenes foram os discursos dos presidentes dos Comitês Olímpico e Paralímpico.
“O esporte é algo que você pode fazer, o que você pode adquirir, os limites que você pode alcançar, as barreiras que você pode quebrar. O esporte mostra o que é possível. O esporte se recusa a admitir um não como resposta”, afirmou Sir Sebastian Coe, presidente do Comitê Olímpico Internacional. As fortes palavras de Coe contagiaram, arrancando aplausos da plateia. Em clima de comoção, a Rainha Elizabeth II e membros da Família Real assistiam à cerimônia, milimetricamente concebida pelos diretores Jenny Sealey, Bradley Hemmings e Stephen Daldry. Em dado momento, surge uma das lendas vivas do mundo contemporâneo da ciência, o físico britânico Sir Stephen Hawking e a dramaticidade toma conta do estádio, quando Sir Ian Mckellen, ator britânico (Senhor dos Anéis, O Código Da Vinci, X-Men), assume o rumo da narrativa como Prospero, personagem da Peça “A tempestade”, de William Shakespeare.

Razão de viver
Mas o clima em Londres é de congraçamento, de harmonizar os ânimos e os corações. O prefeito de Londres, Boris Johnson, na tarde anterior à abertura dos Jogos, já havia declarado ao Jornal London Evening Standard a promessa de um “um belíssimo show” e que mudaria a atitude das pessoas sobre esporte e atletas paralímpicos para sempre.
Nos principais pontos da cidade há outdoors com a equipe britânica paralímpica, apresentando-os como super-humanos. As histórias dos atletas paralímpicos britânicos tomam conta das páginas dos jornais, como a história do soldado Nick Beighton que perdeu ambas as pernas quando uma bomba explodiu no Afeganistão. Três anos depois, integra a equipe britânica e encontra no remo, um modo de sobreviver e recomeçar a vida: “Eu consegui minha vida de volta. Remar não estava nas prioridades da minha mente, mas eu sabia que era uma opção”, declarou ao London Evening Standard.
Outra história impressionante é de Richard Whitehead, chamado de “a máquina”. Whitehead tornou-se o primeiro amputado a correr abaixo a maratona com o tempo abaixo de três horas. Ele conversou com Cathy Wood, repórter do London Evening Standard, e contou detalhes da sua rotina, em um perfil revelador: “O poder do esporte é uma ferramenta sólida que pode inspirar pessoas com qualquer que seja a bagagem cultural que carregue. Se você tem uma atitude positiva sobre esporte, ela pode espalhar-se para toda a comunidade”.


Eleanor Simmonds nos painéis da cidade
 Foto: Flavio Brebis


Outra atleta paraolímpica britânica celebrada é a nadadora Eleanor Simmonds, que aos treze anos de idade, tornou-se a atleta mais jovem a ganhar duas medalhas de ouro em Beijing 2008, nos 100 e 400 metros estilo livre. No ano seguinte, fez história aos 14 anos e 51 dias, quando se tornou a pessoa mais jovem da história a receber uma homenagem da Rainha (Elizabeth II). Ela relembra os jogos de Beijing: “Eu nunca imaginei que pudesse ganhar o ouro. Na verdade era como se fosse uma espécie de sonho”, conta Ellie (como é carinhosamente chamada pelos britânicos) ao Jornal The Sun. Ela diz que tem treinado 20 horas por semana e espera toda a família para assisti-la a ganhar mais medalhas.
 
 E o Brasil?

As promessas brasileiras de medalhas são muitas e os atletas podem escrever o capítulo mais vitorioso da história paralímpica nacional, segundo o Comitê Brasileiro, e subir pelo menos duas posições no quadro geral, superando as 47 medalhas (16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze) conquistadas em Pequim 2008.
Daniel Dias, André Brasil e Clodoaldo Silva são as chances reais de medalhas. Juntos, possuem o incrível número de 26 medalhas paralímpicas e figuram entre as estrelas dos Jogos. “Sabemos que todos os países estão se preparando muito, fazendo treinamento em altitude, com estrutura. Mas contamos com pelo menos umas 10 medalhas de ouro, três ou quatro de prata e uma ou duas de bronze. A meta é ficar entre os oito primeiros”, projeta o Coordenador Técnico da Natação, Murilo Barreto.
O Hipismo tem chances de medalhas com Davi Salazar, Marcos Alves, que subiu duas vezes ao pódio em Pequim, nas categorias Individual e Freestyle e Elisa Melaranci. “A equipe está me ajudando muito, porque eu estava muito tensa. Ainda não tenho tanto entrosamento com o meu cavalo, mas desde que viemos para Londres fizemos um trabalho muito bom e isso me deixou mais tranquila”, afirma Elisa, primeira da equipe de adestramento a competir.
Equipes brasileiras também entram em quadra no goalball e no basquete em cadeira de rodas e enfrentam rivais muito preparados, mas o clima é de confiança na qualidade da preparação técnica realizada com os atletas. “Realizamos bons treinos e amistosos”, afirma Marcus da Gama, coordenador técnico da delegação de basquete em cadeira de rodas.
Contudo, independente das expectativas de medalhas e das promessas de quebras de recordes, o que se vê por aqui é um clima de camaradagem. A notável visão de Sir Ludwig Guttmann, o pai dos jogos paralímpicos, continua inspirando gerações e foi um dos pontos altos do discurso do presidente do Comitê Paraolímpico Internacional, Sir Philip Craven, na cerimônia de abertura, que conclamou a todos: “Preparem-se para se inspirar. Preparem-se para serem deslumbrados. Preparem-se para ser comovidos” e pede aos atletas a desempenharem “o esporte como nunca”.


 Londres, agosto 30, 2012